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Estrutura Geológica

 

DERIVA CONTINENTAL E TECTÔNICA DE PLACAS

No século XVI, quando foram confeccionados os primeiros mapas-múndi com relativa precisão, observou-se a coincidência entre os contornos da costa leste sul-americana e da costa oeste africana. Surgiram, então, hipóteses de que os continentes não estiveram sempre em suas atuais posições. Entretanto, somente em 1915, o deslocamento dos continentes foi apresentado como tese científica (a teoria da deriva continental) por um meteorologista alemão chamado Alfred Wegener (1880-1930). Ele propôs que há cerca de 200 milhões de anos teria existido apenas um continente, a Pangeia (‘toda a terra’), que em determinado momento começou a se fragmentar. Alexander du Toit (1878-1948), geólogo que lecionou na Universidade de Johannesburgo, na África do Sul, foi um dos maiores defensores da teoria de Wegener. Ele considerava que a Pangeia se dividiu primeiramente em dois grandes continentes, a Laurásia, no hemisfério norte, e Gonduana, no hemisfério sul, que continuaram a se fragmentar, originando os continentes atuais. Observe as ilustrações a seguir, que mostram essa sequência.

 


Além de se basear na coincidência entre os contornos das costas atlântica sul-americana e africana, Wegener tinha outro argumento para defender sua teoria: as semelhanças entre os tipos de rocha e de fósseis de plantas e animais encontrados nos dois continentes, separados pelo oceano Atlântico, portanto por milhares de quilômetros. A presença de fósseis idênticos ao longo dessas costas era a prova que faltava para demonstrar que, no passado, África e América do Sul formaram um único continente. A descoberta de fósseis de plantas tropicais na Antártida também indicava que essa área, atualmente coberta de gelo, já esteve bem mais próxima do Equador. Apesar das evidências, a teoria proposta por Wegener não foi bem recebida pela comunidade científica da época. Isso ocorreu principalmente porque ele não conseguiu explicar a força que fraturou a litosfera e impulsionou os continentes. Havia um clima de intenso debate sobre a questão na época e os físicos convenceram a maioria dos geólogos de que as camadas da Terra eram muito rígidas para que a deriva continental ocorresse.

Somente na década de 1960, mais de trinta anos depois da morte de Wegener, o tema voltou a ser abordado. O desenvolvimento de novas tecnologias permitiu o mapeamento do fundo do oceano por meio de expedições submarinas. Tal mapeamento levou à descoberta de evidências que comprovaram a deriva continental e levaram ao desenvolvimento da teoria da tectônica de placas. Essa teoria foi importante para as diversas ciências relacionadas ao estudo da Terra assim como a descoberta da estrutura do átomo foi para a Física e a Química ou a teoria da

evolução das espécies, para as Ciências Biológicas. O texto a seguir retrata esse processo.

 


Hess e Dietz defenderam que a movimentação do manto carrega consigo as grandes placas tectônicas que compõem a crosta terrestre. Essas placas se deslocam sobre a astenosfera e provocam a deriva dos continentes. A exploração de petróleo em alto-mar, na década de 1960, ajudou a confirmar a expansão do assoalho oceânico, corroborando a teoria da deriva continental e da tectônica de placas. Quando a idade de algumas rochas retiradas do fundo do mar foi determinada, obteve-se a evidência que faltava para comprovar as duas teorias. À medida que aumentava a distância entre o local onde as amostras foram retiradas e a Dorsal Atlântica (cadeia montanhosa submersa no meio do oceano Atlântico), tanto para leste como para oeste, aumentava também a idade das rochas. Isso prova que há uma enorme falha no assoalho oceânico, dividindo-o em duas enormes placas que se afastam uma da outra, provocando o alargamento do fundo do mar, a ampliação do oceano Atlântico e um distanciamento maior entre os continentes localizados em seus dois extremos. Observe o mapa a seguir.

 

Como podemos observar no esquema ao lado, o material magmático do manto se movimenta lentamente, formando correntes de convecção, responsáveis pelo deslocamento das placas tectônicas. Ao se moverem, as placas tectônicas podem se chocar (placas convergentes), afastar-se (placas divergentes) ou simplesmente deslizar lateralmente entre si (placas conservativas).

 


 


Atualmente, a crosta terrestre é constituída por sete grandes placas tectônicas e outras menores. Há milhões de anos, no início de sua movimentação, é provável que as placas fossem em menor número, conforme vimos na página 100. Observe no mapa da página ao lado as placas tectônicas hoje conhecidas.

Na faixa de contato entre placas convergentes, como no caso da Sul-Americana e de Nazca (observe o mapa a seguir), a placa oceânica, mais densa, mergulha sob a continental. Esse fenômeno, conhecido como subducção, dá origem às fossas marinhas, como a de Atacama, no oceano Pacífico. Ao mergulhar em direção ao manto, a placa oceânica é destruída, porque se funde novamente. Já a placa continental, devido à pressão da placa que mergulhou, soergue-se, dobra-se ou enruga-se. É justamente nessas porções menos rígidas da crosta que ocorrem, desde pelo menos a era Mesozoica, os movimentos orogenéticos.

Foi assim que se originaram as grandes cadeias montanhosas do planeta, formadas pelo enrugamento ou pelo soerguimento de extensas porções da crosta. No caso das placas Sul-Americana e de Nazca, por exemplo, o encontro entre elas deu origem à cordilheira dos Andes. Quando localizadas no oceano, as placas tectônicas podem formar cadeias montanhosas submersas ao se encontrarem.

distribuição geográfica das placas tectônicas, vulcões e zonas sujeitas a terremotos. observe que todas as regiões de atividade sísmica intensa estão sobre limites de placas. o mesmo ocorre com a quase totalidade dos vulcões ativos. isso acontece porque, nas zonas de encontro dessas placas, a crosta é mais frágil, permitindo o escape de magma, que dá origem aos vulcões. além disso, devido aos movimentos das placas, a crosta fica sujeita a abalos sísmicos

 

Nos limites convergentes há ainda outro tipo de evento geológico envolvendo duas placas cujos limites são continentais. Nesse caso, ao se encontrarem, a mais densa penetra sob a menos densa, porém as placas não vão em direção ao manto, elas se dobram e dão origem a cadeias montanhosas. É o caso do Himalaia, entre as placas Euro-Asiática e Indo-Australiana, região de fortes abalos sísmicos e metamorfismo. Na zona de encontro entre duas placas divergentes, o magma aflora lentamente formando ao longo de milhares de anos uma cadeia montanhosa chamada dorsal. É o caso das placas Sul-Americana e Africana, cujo contato se dá no meio do oceano Atlântico, formando a Dorsal Atlântica.


 Quando as placas deslizam lateralmente entre si, como fazem a placa Norte-Americana e a do Pacífico, não ocorre destruição nem formação de crosta. Trata-se de placas conservativas, que, como o próprio nome sugere, não produzem grandes alterações de relevo, embora provoquem falhas e terremotos, como mostram as fotos.

 

Ao lado, a falha de San Andreas, na Califórnia (Estados Unidos), em 2009. As setas indicam descolamento conservativo das placas. Acima, destruição causada por terremoto em Oakland (Califórnia), em 1989. Esta falha é a zona de contato entre a placa norte-americana e a do Pacífico; seu deslizamento provoca terremotos e grandes prejuízos nas cidades atingidas.

O vulcanismo e os abalos sísmicos, que também são responsáveis por alterações do relevo, estão associados à tectônica de placas. A ascensão do magma à superfície dá origem aos vulcões, montanhas com formato de cone e alturas variadas. O vulcão Etna, no sul da Itália, por exemplo, tem 3 280 m de altura, dos quais 3 070 m são constituídos de material oriundo de suas próprias erupções. O Mauna Loa, no Havaí, atinge aproximadamente 9 000 m de altura total, e sua base está a cerca de 5 000 m abaixo do nível do mar, no oceano Pacífico. Os vulcões e terremotos têm um grande poder destrutivo. No entanto, o avanço das técnicas de detecção, o treinamento da população que vive em áreas de risco e sua rápida retirada pelo governo em caso de erupções vulcânicas e tsunamis, bem como o desenvolvimento de novas tecnologias de construção criadas para amenizar o impacto de abalos sísmicos, evitaram a morte de milhares de pessoas nas últimas décadas, em diversos países.


Fonte: Sene, Eustáquio de Geografia Geral e do Brasil: Espaço Geográfico e Globalização / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. – 2. ed. reform. – São Paulo: Scipione, 2013.