PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS
Uma projeção cartográfica é o resultado de um conjunto
de operações que permite representar no plano, tendo como referência paralelos e
meridianos, os fenômenos que estão dispostos na superfície esférica. Quando
vista do espaço sideral, a Terra parece ser uma esfera perfeita, mas nosso
planeta apresenta uma superfície irregular e é levemente achatado nos polos.
Por isso os cartógrafos, geógrafos e outros profissionais que produzem mapas
fazem seus cálculos utilizando uma elipse, que ao girar em torno de seu eixo
menor forma um volume, o elipsoide de revolução.
Segundo o IBGE, “o elipsoide é a superfície de
referência utilizada nos cálculos que fornecem subsídios para a elaboração de
uma representação cartográfica”.
Ao fazerem a transferência de
informações do elipsoide para o plano, os cartógrafos se deparam com um
problema insolúvel: qualquer que seja a projeção adotada, sempre haverá algum
tipo de distorção nas áreas, nas formas ou nas distâncias da superfície
terrestre. Só não há distorção perceptível em representações de escala
suficientemente grande, como é o caso das plantas, nas quais não é necessário
considerar a curvatura da Terra. As projeções podem ser classificadas em
conformes, equivalentes, equidistantes ou afiláticas, dependendo das
propriedades geométricas presentes na relação globo terrestre/mapa-múndi. Além
disso, podem ser agrupadas em três categorias principais, dependendo da figura
geométrica empregada em sua construção: cilíndricas (as mais comuns), cônicas
ou azimutais (também chamadas de planas).
CONFORMES
Projeção conforme é aquela na qual os ângulos são
idênticos aos do globo, seja em um mapa-múndi, seja em um regional. Nesse tipo
de projeção, as formas terrestres (continentes e ilhas) são representadas sem
distorção, porém com alteração do tamanho de suas áreas. Apenas nas
proximidades do centro de projeção, que neste caso é o equador, é que se
verifica distorção mínima. Quanto maior o afastamento a partir dessa linha imaginária,
maior é a distorção. Por essa razão, quando se utiliza esse tipo de projeção,
geralmente só são reproduzidos os territórios situados até 80º de latitude. A
mais conhecida projeção conforme é a de Mercator, cartógrafo e matemático belga
cujo nome verdadeiro era Gerhard Kremer (1512-1594). Em 1569, Mercator abriu
novas perspectivas para a Cartografia, ao construir uma projeção cilíndrica
conforme que imortalizou seu codinome. Essa representação foi
elaborada no século XVI, época em que os europeus comandavam a Expansão
Marítima, conquistando novos territórios e dominando outros povos. Foi
construída para facilitar a navegação, pois possibilitava representar com
precisão, no mapa, a rede de coordenadas geográficas e os ângulos obtidos pela
bússola. A precisão das áreas não era, nesse caso, tão importante; além disso,
a maior parte do mundo era desconhecida dos europeus e a limitação técnica da
Cartografia da época impedia representações precisas dos Continentes.
No mapa-múndi de Mercator a Europa aparece numa posição central, superior e, por se situar em altas latitudes, proporcionalmente maior do que é na realidade. Acabou se transformando no principal representante da visão eurocêntrica do mundo. Durante séculos, foi uma das projeções mais usadas na elaboração de planisférios, e, apesar do surgimento posterior de muitas outras, ainda hoje é bastante usada.
EQUIVALENTES
Num mapa-múndi ou regional com
projeção equivalente as áreas mantêm-se proporcionalmente idênticas às do globo
terrestre, embora as formas estejam deformadas em comparação com a realidade.
Um exemplo desse tipo de
projeção é o Mapa-Múndi de Peters, elaborado pelo historiador e cartógrafo alemão
Arno Peters (1916-2002) e publicado pela primeira vez em 1973. Embora essa
projeção não tenha rompido completamente com a visão eurocêntrica, acabou dando
destaque aos países de baixa latitude, cujas áreas ficam relativamente
diminuídas na projeção de Mercator.
Essa representação do mundo
atendeu aos anseios dos Estados que se tornaram independentes após a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) e que nessa época eram considerados subdesenvolvidos.
Tentando afirmar-se como nações autônomas, muitos desses países viram na
projeção de Peters a materialização cartográfica de suas aspirações: receberem
das demais nações o mesmo tratamento dado aos Estados desenvolvidos.
Quando invertida em relação à
convenção cartográfica dominante, mostrando o sul na parte superior, como chegou
a ser impressa em alguns lugares, a projeção passa a representar o planeta da perspectiva
dos países em desenvolvimento, que em grande parte estão situados ao sul das
regiões mais desenvolvidas. O mapa-múndi de Hobo-Dyer, outra projeção
equivalente, também representa o mundo de forma “invertida”, com o sul no topo,
como se pode ver a seguir.
EQUIDISTANTES
Nos mapas-múndi com projeção
azimutal ou plana equidistante, a representação das distâncias entre as regiões
é precisa. Elaborada pelo astrônomo e filósofo francês Guillaume Postel
(1510-1581) e publicada no ano de sua morte, adota como centro da projeção um
ponto qualquer do planeta para que seja possível medir a distância entre esse
ponto e qualquer outro. Por isso esse tipo de projeção é utilizado
especialmente para definir rotas aéreas ou marítimas.
A projeção equidistante mais
comum é centrada em um dos polos, geralmente o polo norte, como no mapa ao
lado, mas, como foi dito, pode ter como centro qualquer ponto da superfície
terrestre. No centro da projeção, pode-se situar a capital de um país, uma base
aérea, a sede de uma empresa transnacional, etc. Entretanto, ela apresenta
enormes distorções nas áreas e nas formas dos continentes, que aumentam com o
afastamento do ponto central.
Na Projeção Azimutal Equidistante as distâncias só são precisas se traçadas radialmente do centro – no caso desta, o polo Norte – até um ponto qualquer do Mapa
Atualmente é comum a
utilização de projeções com menores índices de distorção para o mapeamento do
planeta, como a de Robinson (observe o mapa abaixo). Essa projeção afilática
não preserva nenhuma das propriedades de conformidade, equivalência ou
equidistância, mas em compensação não distorce o planeta de forma tão acentuada
como as projeções que vimos anteriormente; por isso, tem sido uma das mais
utilizadas para mostrar o mundo em atlas escolares e mapas de divulgação.
Sene, Eustáquio de Geografia Geral e do Brasil :
Espaço Geográfico e Globalização / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira.
– 2. ed. reform. – São Paulo: Scipione, 2013.