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O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO

 

O CAPITALISMO INDUSTRIAL

 

Nas primeiras décadas do século XVIII, o Reino Unido da Grã ‑Bretanha (formado em 1707 com a unificação entre a Inglaterra e a Escócia) comandou uma grande transformação no sistema de produção de mercadorias, na organização das cidades e do campo e nas condições de trabalho, o que caracterizou a Revolução Industrial. Um de seus aspectos mais importantes foi o aumento da capacidade de transformação da natureza, por meio da utilização de máquinas hidráulicas e a vapor, o que provocou grande aumento no volume de mercadorias produzidas e a consequente necessidade de ampliação do mercado consumidor em escala mundial.
Esse período também foi marcado por uma crescente aceleração da circulação de pessoas e mercadorias, graças à expansão das redes de transporte terrestre, com o trem (a locomotiva a vapor foi criada em 1805), e marítimo, com o barco a vapor (criado em 1814) e a rápida expansão das ferrovias na Europa.
O trem a vapor foi o meio de transporte típico do capitalismo industrial. a rápida expansão das ferrovias impulsionou sua utilização e possibilitou a interligação de lugares diversos


O comércio não era mais a essência do sistema, embora continuasse importante para fechar o ciclo produção ‑consumo. Nessa nova fase, o lucro provinha principalmente da produção de mercadorias realizada por trabalhadores assalariados. Mas de que modo se lucrava com a produção em série de tecidos, máquinas, ferramentas e armas? E como os rápidos avanços nos transportes, com o surgimento dos trens e dos barcos a vapor, aumentavam os ganhos dos capitalistas?
Foi Karl Marx (1818 ‑1883), economista e filósofo alemão e um dos mais influentes pensadores dos séculos XIX e XX, quem desvendou o mecanismo da exploração capitalista, definindo o conceito de mais‑valia. A toda jornada de trabalho corresponde uma remuneração, que garantirá a subsistência do trabalhador. No entanto, o trabalhador produz um valor maior do que aquele que recebe como salário. Essa quantidade de trabalho não pago permanece em poder dos proprietários das fábricas, fazendas, minas, lojas e outros empreendimentos. Dessa forma, em todo produto ou serviço está embutido esse valor, que é apropriado pelo dono desses meios de produção e permite o acúmulo de lucro pela burguesia (a classe dos capitalistas). O regime assalariado é, portanto, a relação de trabalho mais adequada ao capitalismo e se disseminou à medida que o capital se acumulava em grande escala nas mãos dos donos dos meios de produção, provocando uma crescente necessidade de expansão dos mercados consumidores. Ao mesmo tempo o trabalhador assalariado, além de apresentar maior produtividade que o escravo, tem renda disponível para o consumo. Por isso a escravidão entrou em decadência e o trabalho assalariado passou a predominar, embora ainda hoje exista escravidão no mundo, até mesmo no Brasil.

Após se consolidar no Reino Unido da Grã ‑Bretanha, no século XIX a industrialização foi se expandindo para outros países europeus, como a Bélgica, a França, a Alemanha, a Itália e até para fora da Europa, alcançando os Estados Unidos e, de forma incipiente, o Japão, o Canadá e, mais tarde, no século XX, os hoje chamados países emergentes.
Ao contrário do período mercantilista, na nova etapa do capitalismo era conveniente para a burguesia que a economia funcionasse segundo a lógica do mercado, com o Estado interferindo cada vez menos diretamente na produção e no comércio. A partir de então, caberia ao Estado, nos limites de seu território, garantir a livre ‑iniciativa, a concorrência entre as empresas e o direito à propriedade privada, e, no comércio internacional, o apoio às empresas nacionais na concorrência com as de outros países e a proteção do mercado interno contra a concorrência desleal.
Consolidou ‑se, assim, uma nova doutrina econômica: o liberalismo. Essa nova visão foi sintetizada pelos representantes da economia política clássica, principalmente o economista britânico Adam Smith. Em seu livro mais célebre, A riqueza das nações (1776), defendia o indivíduo contra o poder do Estado e acreditava que cada um, ao buscar seu próprio interesse econômico, contribuiria para o interesse coletivo de modo mais eficiente.
Por isso era contrário à intervenção do Estado na economia e defendia a “mão invisível” do mercado. Os princípios liberais aplicados às trocas comerciais internacionais redundaram na defesa do livre‑comércio, ou seja, a defesa da redução, e até abolição, das barreiras tarifárias para a livre circulação de mercadorias, o que servia perfeitamente aos interesses do Reino Unido, país mais industrializado da época e interessado em abrir mercados para seus produtos em todo o mundo. Entretanto, os países que se industrializaram depois praticaram medidas protecionistas à sua indústria nascente. Mesmo os Estados Unidos, país de forte tradição liberal, só passou a defender o liberalismo no comércio internacional quando já tinham estruturado uma indústria competitiva.
No fim do século XIX, mudanças importantes estavam acontecendo dentro das fábricas: a produtividade e a capacidade de produção aumentavam rapidamente, devido à introdução de novas máquinas e fontes de energia mais eficientes, como o petróleo e a eletricidade; aprofundava ‑se a especialização do trabalhador em uma única etapa da produção; e crescia a fabricação em série. Era o início da Segunda Revolução Industrial, quando o capitalismo entrou em sua etapa financeira e monopolista, marcada pela origem de muitas das atuais grandes corporações e pela expansão imperialista.

Fonte: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. – 2. ed. reform. – São Paulo: Scipione, 2013.