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O CAPITALISMO INFORMACIONAL

 A CRISE FINANCEIRA E O NEOLIBERALISMO EM XEQUE

O neoliberalismo é uma doutrina econômica que se desenvolveu desde o final dos anos 1930 e foi colocada em prática nos Estados Unidos, sob a presidência de Ronald Reagan (1981 ‑1988), e no Reino Unido, sob o governo da primeira‑ministra Margaret Tatcher (1979 ‑1990).
Especialmente na década de 1990, as políticas neoliberais se disseminaram através de organismos controlados por esses países, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, e atingiram os países em desenvolvimento.
Ao assumir a Presidência dos Estados Unidos, Ronald Reagan (Partido Republicano), em seu discurso de posse proferido em 20 de janeiro de 1981, afirmou: “Na atual crise, o governo não é a solução de nossos problemas; o governo é o problema”. Ele se referia à crise capitalista dos anos 1970, que evidenciava certo esgotamento das políticas keynesianas e era agravada pelos choques do petróleo (elevação dos preços do barril em 1973 e 1979). O governo Reagan foi marcado por redução do papel regulador do Estado na economia, por cortes de impostos – que beneficiavam especialmente os mais ricos –, supostamente para estimular o investimento e a produção, e por imposição da doutrina neoliberal aos países em desenvolvimento. 
O neoliberalismo, no plano internacional, tinha o objetivo de reduzir as barreiras aos fluxos globais de mercadorias e capitais (abertura econômica e financeira), o que beneficiou principalmente os países desenvolvidos e suas corporações transnacionais. Entretanto, alguns países emergentes, como a China, a Índia, os Tigres Asiáticos, o México e o Brasil, também se beneficiaram ao receber muitos investimentos produtivos e ampliar sua participação no comércio mundial. A ampliação dos fluxos de capitais, principalmente o financeiro, e a falta de controle estatal sobre o mercado – sobretudo nos Estados Unidos, país de forte tradição liberal – acabou levando o capitalismo a uma grave crise econômica em 2008/2009. Nos Estados Unidos, a crise teve seu auge em setembro de 2008 com a falência do Lehman Brothers, centenário banco de investimento norte ‑americano. A mais grave crise desde 1929 originou ‑se no sistema financeiro norte‑‑americano e em pouco tempo se espalhou pelo mundo, atingindo também a economia real dos países. Dessa forma, o neoliberalismo foi posto em xeque, como fica evidente no discurso de posse do presidente dos Estados Unidos Barack Obama (Partido Democrata), proferido no dia 20 de janeiro de 2009: “Tampouco a pergunta diante de nós é se o mercado é uma força do bem ou do mal. Seu poder para gerar riqueza e expandir a liberdade não tem igual, mas esta crise nos fez lembrar que, sem um olhar atento, o mercado pode sair do controle – e que uma nação não pode prosperar por muito tempo se favorece apenas os prósperos”. Trata ‑se de um discurso muito diferente do feito por Ronald Reagan 28 anos antes.
Como admitiu o então presidente dos Estados Unidos, o principal motivo da crise econômica foi a fiscalização deficiente do mercado, principalmente financeiro, por parte do Estado. Com o propósito de corrigir essa falha, em junho de 2009 o governo norte‑americano lançou um plano de regulação, considerado a maior intervenção do Estado na economia desde os anos 1930 (pós‑crise de 1929). Entre outras medidas, esse plano assegurou amplos poderes ao Federal Reserve (ou Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) para regular e supervisionar todo o sistema financeiro do país. Para isso foi criada uma agência com o intuito de supervisionar os bancos. O governo poderá intervir em empresas “grandes demais para quebrar”, evitando, assim, que possam contaminar o mercado. Também foi criada a Agência de Proteção dos Consumidores, cujo objetivo é coibir práticas abusivas do setor financeiro, como ocorreu no caso das hipotecas.
Num país de forte tradição liberal, é natural que esse plano encontrasse resistência por parte da oposição, do Partido Republicano e, especialmente, das empresas financeiras, que não teriam mais total liberdade de atuação no mercado. Um dia antes do lançamento do plano, Obama já alertava para esse fato:
“Vamos ouvir muita conversa de que não precisamos de mais regulação e de que não queremos as mãos do governo sobre o mercado. Mas não podemos esquecer o desastre em que nos metemos exatamente pela falta dessa regulamentação mais rigorosa, o que levou a um comportamento irresponsável de alguns”. Para entender melhor a origem da crise econômico ‑financeira iniciada no mercado imobiliário subprime dos Estados Unidos, leia a seguir o texto do economista Ladislau Dowbor.
A partir de 2010, a crise financeira arrefeceu ‑se nos Estados Unidos, mas atingiu mais fortemente a Europa, sobretudo as economias menores e mais endividadas da Zona do Euro. Muitos governos aumentaram muito sua dívida pública, às vezes muito além do tamanho do PIB.



No caso de alguns países, como a Grécia, a dívida cresceu tanto que se tornou impagável, obrigando o governo a recorrer à ajuda do Banco Central Europeu, da União Europeia e do FMI para honrar seus compromissos. Esses organismos impuseram uma série de cortes de despesas públicas e gastos sociais, como redução no valor das aposentadorias, o que provocou fortes manifestações populares

 Isso ocorreu por causa do:

• salvamento de bancos e outras empresas financeiras, como nos Estados Unidos;

• aumento das taxas de juros cobradas pelos credores para a rolagem da dívida, como nos países do Mediterrâneo;

• estímulo à recuperação da economia, em quase todos os países, incluindo o Brasil.

População  Grega protesta nas ruas de Atenas contra as medidas do FMI diante da crise economica em 2010. 
A crise financeira provocou redução no crescimento do PIB de alguns países e recessão em outros, com o consequente aumento do desemprego, isto é, transformou ‑se numa crise econômica mais ampla, como se pode constatar pelos dados das tabelas a seguir. Embora a crise tenha se iniciado no mercado financeiro, é a sociedade como um todo que acaba pagando a conta via elevação de impostos, corte de benefícios sociais, redução da renda familiar (como consequência do desemprego) e piora nas condições de vida.


Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. – 2. ed. reform. – São Paulo: Scipione, 2013.