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O CAPITALISMO INFORMACIONAL

 A REVOLUÇÃO INFORMACIONAL

Com o início da Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico‑Científica ou Revolução Informacional, o capitalismo, como propõe o sociólogo espanhol Manuel Castells, atingiu seu período informacional. Essa nova etapa começou a se gestar no pós‑Segunda Guerra, mas se desenvolveu sobretudo a partir dos anos 1970 e 1980. A partir daí, empresas, instituições e diversas tecnologias foram responsáveis pelo crescente aumento da produtividade econômica e pela aceleração dos fluxos materiais e imateriais – de capitais, mercadorias, informações e pessoas.

Nessa etapa do capitalismo, os avanços tecnológicos potencializaram a produção industrial e o sistema financeiro. As novas tecnologias empregadas no processo produtivo, a exemplo da robótica, permitiram grande aumento da produtividade industrial e da diversificação dos produtos. Além disso, os avanços tecnológicos na informática permitiram que os fluxos de capitais ocorressem sem a necessidade física do dinheiro, possibilitando um enorme crescimento do setor financeiro globalizado. Entretanto, a característica fundamental dessa etapa do desenvolvimento capitalista é a crescente importância do conhecimento. Os produtos e serviços têm um conjunto cada vez maior de conhecimentos a eles agregados, valorizando ‑os. A fabricação de um televisor ou um automóvel, por exemplo, envolve, além do material e da mão de obra (está também cada vez mais qualificada), uma série de conhecimentos específicos. Produtos e serviços têm, portanto, uma nova característica – seu crescente teor informacional. Mas o conhecimento também vai se incorporando ao território, constituindo o que o geógrafo Milton Santos chamou de meio técnico ‑científico ‑informacional, que aparece predominantemente nos países desenvolvidos e nas regiões mais modernas dos países emergentes, e é a base para os fluxos da globalização.

Os países na vanguarda da Revolução Informacional são aqueles que lideram a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), com destaque para os Estados Unidos, país que mais investe em P&D em termos absolutos (faça a conta: 2,8% de um PIB de 14,3 trilhões de dólares), que possui o maior número de pesquisadores (cerca de 1,5 milhão de cientistas), que mais publica artigos técnicos e científicos em revistas especializadas e que obtém as maiores receitas de royalties e taxas de licenciamento sobre novas tecnologias de produtos e serviços.

Em 2009, os Estados Unidos investiram 400 bilhões de dólares (valor equivalente à soma do PIB da Argentina, do Equador, da Bolívia e do Paraguai) em pesquisa. Esse investimento foi feito por órgãos do governo – como a Nasa e o Departamento de Defesa –, por empresas privadas, universidades e outras instituições de pesquisa. Para exemplificar: apenas a Microsoft, fabricante de softwares com sede em Seattle, estado de Washington, gastou 9 bilhões de dólares em pesquisa naquele ano. Para comparar: o Brasil inteiro, no mesmo ano, investiu cerca de 17 bilhões de dólares em pesquisa, valor equivalente ao PIB da Bolívia.



As duas revoluções industriais anteriores foram impulsionadas pelo desenvolvimento de novas fontes de energia – a primeira, por carvão, e a segunda, por petróleo e eletricidade. A revolução ora em curso é impulsionada pelo conhecimento, embora, evidentemente, a energia continue sendo crucial (um computador de última geração não funciona sem energia elétrica ou bateria). Durante a expansão imperialista era imprescindível para as indústrias o acesso a fontes de matérias ‑primas e de energia para a manutenção do processo produtivo. Hoje, na época da globalização, embora o acesso a recursos naturais continue sendo muito importante, é imprescindível o acesso ao conhecimento, fruto de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento.

Desde os primórdios da espécie humana, as sociedades produzem conhecimentos diversos: uma ferramenta, como um arado puxado por algum animal, por exemplo, que produziu avanços na agricultura, implica algum conhecimento para produzi‑lo e utilizá‑lo. O que mudou hoje, então? Atualmente o conhecimento é o principal responsável pelo desenvolvimento, pela produção e pela utilização dos produtos e serviços. Por isso, quanto mais avançados estes forem, mais incorporam conhecimentos, que são a base da atual Revolução Técnico ‑Científica. As primeiras indústrias, da era das chaminés, desenvolveram ‑se em torno das bacias carboníferas. Atualmente, as empresas de alta tecnologia estão próximas a universidades e outras instituições de pesquisa, onde se desenvolvem os parques tecnológicos ou. Nesses centros industriais, há grande concentração de indústrias de informática (hardware e software), telecomunicações, robótica e biotecnologia, entre outras de alta tecnologia.

Os parques tecnológicos são um exemplo evidente do meio técnico ‑científico ‑informacional. Desde a década de 1970, está havendo uma grande revolução nas unidades de produção, nos serviços e nas residências. Grande parte dessa revolução deve ‑se a uma pequena peça de silício chamada chip, que possibilitou a construção de computadores cada vez mais rápidos, precisos e baratos. O desenvolvimento de satélites e de cabos de fibra óptica, entre outras tecnologias, tem permitido grandes avanços nas telecomunicações. As tecnologias da informação e comunicação têm facilitado o gerenciamento de dados e acelerado o fluxo de capitais, mercadorias e informações em escala mundial por diversos meios, entre os quais se destaca a internet.

Com a aceleração contemporânea, o capitalismo atingiu o estágio planetário, a atual fase de globalização. Estrutura ‑se um mundo cada vez mais integrado por modernos meios de transportes e telecomunicações. Por isso podemos dizer que vivemos em um capitalismo informacional ‑global. Entretanto, como veremos no próximo capítulo, a globalização e seus fluxos abarcam o espaço geográfico de forma bastante desigual, pois alguns países e regiões estão mais integrados que outros, e os “comandantes” desse processo estão concentrados em poucos lugares.


Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. – 2. ed. reform. – São Paulo: Scipione, 2013.