Páginas

Bolsonaro assina decreto que acaba com o horário de verão

 

Bolsonaro assina decreto que acaba com o horário de verão

Adiantamento no relógio foi instituído pela primeira vez pelo ex-presidente Getúlio Vargas. Segundo Bolsonaro, fim do período vai aumentar produtividade do trabalhador.

Bolsonaro assina decreto que acaba com o horário de verão

Presidente Jair Bolsonaro em entrevista coletiva para anunciar o decreto que acaba com o horário de verão nesta quinta-feira (25) — Foto: Reprodução/NBR

O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta quinta-feira (25) o decreto que revoga o horário de verão. A assinatura ocorreu durante cerimônia no Palácio do Planalto. Segundo o presidente, a medida segue estudos que analisaram a economia de energia no período e como o relógio biológico da população é afetado.

Bolsonaro já havia anunciado no início do mês, em uma rede social, a decisão de acabar com o horário de verão neste ano. Neste período do ano, que costumava durar entre outubro e fevereiro, parte dos estados brasileiros adiantava o relógio em uma hora.

Na cerimônia desta quarta-feira para anunciar o decreto, o presidente informou que a área técnica do Ministério de Minas e Energia apresentou estudos sobre a economia de energia gerada pelo horário de verão. Segundo Bolsonaro, “gente da área de saúde” também foi procurada para apontar como o horário afeta o relógio biológico das pessoas.

“As conclusões foram coincidentes: questão de economia, o horário de pico era mais pra 15h, então não tinha mais a razão de ser [da permanência do horário], não economizava mais energia; e na área de saúde, mesmo sendo uma hora apenas, mexia com o relógio biológico das pessoas”, disse.

 

"Justo anseio da população brasileira [o fim do horário de verão]. Eu concordo que eu sempre reclamei do horário de verão. E tive a oportunidade, agora, atendendo às pesquisas que fizemos, também, que mais de 70% da população era favorável ao fim do horário de verão", afirmou Bolsonaro.

 

Para o presidente, se não se alterar o "relógio biológico, com toda certeza, a produtividade do trabalhador aumentará".

No início do mês, o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, informou que o Ministério de Minas e Energia fez uma pesquisa segundo a qual 53% dos entrevistados pediram o fim do horário de verão.

De acordo com a pasta, por outro lado, o Brasil economizou pelo menos R$ 1,4 bilhão desde 2010 por adotar o horário de verão.

Decreto

Bolsonaro falou, ainda, sobre o fato de a decisão ter sido tomada por meio de um decreto presidencial, sem necessidade de aprovação do Parlamento.

Ele destacou a ”dificuldade de um parlamentar aprovar uma lei”, o que considera ser “muito difícil, quase como ganhar na Mega Sena”.

"Muitas vezes, um decreto tem um poder enorme, como este assinado aqui, agora. A todos os senhores [parlamentares], os demais que estão nos ouvindo, o governo está aberto. Quem tiver qualquer contribuição para dar via decreto, via novo decreto ou via alteração de decreto, nós estamos à disposição dos senhores”, completou.

Horário de verão

No Brasil, o horário de verão foi instituído pela primeira vez no verão de 1931/1932, pelo então Presidente Getúlio Vargas. Sua versão de estreia durou quase seis meses, vigorando de 3 de outubro de 1931 a 31 de março de 1932.

No verão seguinte, a medida foi novamente adotada, mas, depois, começou a ser em períodos não consecutivos. Primeiro, entre 1949 e 1953, depois, de 1963 a 1968, voltando em 1985 até agora.

O período de vigência do horário de verão é variável, mas, em média, dura 120 dias. Em 2008, o horário de verão passou a ter caráter permanente.

No mundo, o horário diferenciado é adotado em 70 países - atingindo cerca de um quarto da população mundial.

O horário de verão é adotado em países como Canadá, Austrália, Groelândia, México, Nova Zelândia, Chile, Paraguai e Uruguai. Rússia, China e Japão, por exemplo, não implementam esta medida

 Por Laís Lis e Guilherme Mazui, G1 — Brasília 25/04/2019


Governo Bolsonaro descarta retorno do horário de verão

Para ministro de Minas e Energia, horário de verão não se faz necessário no que diz respeito à economia de energia

 


Em plena crise hídrica e apesar dos “conselhos” do presidente Jair Bolsonaro à população, como tomar banhos frios e não usar elevador, seu governo descartou a retomada do horário de verão. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (30) pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. “O horário de verão não se faz necessário no que diz respeito à economia de energia”, disse o ministro, em entrevista após inauguração de usina térmica em São João da Barra (RJ), a 320 quilômetros do Rio de Janeiro. “[O programa] não foi renovado em 2019 e permanece da forma como está.”

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o governo de Jair Bolsonaro vinha recebendo pressões de setores da economia pela retomada do horário de verão para aliviar a pressão sobre os reservatórios das hidrelétricas. O Brasil vive o pior período da crise hídrica e a medida poderia ajudar enquanto as chuvas de verão não chegam. Além disso, setores como o de turismo, serviços e shoppings centers avaliam que uma hora a mais de claridade durante o dia seriam uma maneira de melhorar os negócios.

Mais da metade dos brasileiros é a favor da volta do horário de verão, apurou pesquisa Datafolha divulgada na semana passada. A medida é apoiada por 55% e rejeitada por 38%. Os demais são indiferentes ou não souberam responder.

Sem impacto

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) teria realizado, a pedido do governo, novos estudos sobre a eficácia do programa. E concluiu que a volta do horário de verão não traria impactos positivos no enfrentamento da crise energética. Os resultados do estudo são semelhantes aos realizados para justificar o fim do horário de verão. Entre as alegações, está a popularização dos aparelhos de ar condicionado. Com isso, o pico do consumo foi deslocado para o início da tarde, quando faz mais calor. Ou seja, não haveria mais grande economia em retardar o pôr-do-sol.

Até essa mudança do perfil de consumo residencial, o pico ocorria no início da noite. Nesse horário, muitas empresas e indústrias ainda permaneciam em funcionamento e muita gente já estava em casa utilizando chuveiros e eletrodomésticos.

 

Fim do horário de verão vai no sentido oposto ao da crise ecológica mundial

Segundo professor de Geografia da USP, medida anunciada por Bolsonaro é um erro ao não usar a luz solar em benefício do meio ambiente. 'A quem interessa?', questiona.

Wagner Ribeiro pondera que o horário de verão é uma ação coletiva em prol do melhor uso do que a natureza oferece

Anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), o fim do horário de verão deve não apenas deixar de economizar energia como vai em sentido contrário aos necessários esforços ambientais. A avaliação é de Wagner Ribeiro, professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental. Para ele, a decisão é um grande erro no contexto de crise ecológica mundial.

“É mais uma patacoada. Se diz que aquilo que se economiza de energia não é mais o mesmo de antes, mas de qualquer forma há uma economia, é evidente, não há como negar. Qualquer economia que puder fazer é bem-vinda. O horário de verão causa incômodo em algumas pessoas pela adaptação, mas é uma ação coletiva onde todos estão usando melhor as possibilidades que a natureza oferece. Saber usar a luz solar ao nosso favor é uma medida inteligente”, explica, em entrevista à jornalista Marilu Cabãnas, na Rádio Brasil Atual.

O professor  questiona a quem interessa o fim do horário de verão. Para ele, o maior beneficiado será o setor de telecomunicações, pois para canais de televisão há um transtorno em transmitir programas em rede nacional em horários diferentes, conforme a região do país, considerando que estados do Nordeste e do Norte não adotam o horário. Coincidentemente, Bolsonaro tem privilegiado a TV Record e o SBT para dar entrevistas, além de estar aumentando a verba de propaganda para ambos os canais.

“É uma medida ambientalmente incorreta e pouco inteligente, que não usa ao nosso favor as diferenças regionais e a distribuição de luz no Brasil”, afirma Wagner Ribeiro.

Além do fim do horário de verão, ele critica o fim dos conselhos que garantiam a participação social na elaboração de políticas públicas. Segundo ele, o Brasil era visto como referência na participação popular em temas do governo federal. “Traz muita preocupação esse esvaziamento da participação da sociedade civil na tomada de decisões ambientais.”

Rede Brasil Atual