O presidente da estatal russa Gazprom, Alexei Miller, ameaçou nesta
sexta-feira cortar o fornecimento de gás natural da Ucrânia se o país
não pagar a dívida de US$ 1,89 bilhão (R$ 4,4 bilhões) que tem com a
empresa.
A advertência é feita em meio à crise diplomática entre o governo russo e
o novo governo da Ucrânia, que é aliado dos Estados Unidos e da União
Europeia. O gás é um dos principais motivos da dependência ucraniana a
Moscou.
Miller argumenta que a ucraniana Naftogaz pagou menos de 50% da dívida
que tem com a Gazprom e que, por isso, tem o direito de cortar o
fornecimento. "Não podemos fornecer gás de graça. Ou a Ucrânia salda a
dívida e atualiza os pagamentos, ou há o risco de voltar à situação do
início de 2009."
ENTENDA |
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Há cinco anos, a Rússia cortou a provisão de gás ao país vizinho devido a
outra dívida, o que prejudicou também o fornecimento do combustível a
outros países da Europa. Na época, o bombeamento do gás foi prejudicado
durante 20 dias do inverno europeu.
A medida acontece três dias depois que a Gazprom anunciou a manutenção
do preço do combustível pago atualmente pela Ucrânia. Em dezembro, a
Rússia havia anunciado uma redução de 40% no valor, que havia sido
prometido ao presidente deposto Viktor Yanukovich.
A situação, no entanto, deve ser minimizada devido ao empréstimo de € 11
bilhões (R$ 35 bilhões) oferecido pela União Europeia à Ucrânia. Os
Estados Unidos também forneceram parte do gás produzido pelo país para
Kiev, em caso de represália russa.

PRESSÃO
A mudança do preço do gás faz parte de uma nova pressão da Rússia sobre o
governo interino da Ucrânia. Os dois ainda disputam a região autônoma
da Crimeia, que pertence à Ucrânia, mas tem 60% da população de origem
russa.
Desde a semana passada, a área é ocupada por soldados russos e milícias
aliadas ao Kremlin. Nesta sexta, a Ucrânia disse que a Rússia enviou 30
mil militares à região, o que fere o acordo dos dois países para o uso
da base de Sebastopol.
Na quinta (6), o Parlamento local convocou um referendo para decidir a
incorporação à Federação Russa, em uma manobra que acontece dias após o
presidente Vladimir Putin ter dito que só interviria na região se os
cidadãos locais assim o desejassem.
Os problemas começaram em novembro, quando multidões começaram a ir às
ruas da capital ucraniana, Kiev, para pressionar o então presidente
ucraniano, Viktor Yanukovich, a fechar um acordo comercial com a União
Europeia em detrimento de um com a Rússia, sem sucesso.
O movimento se fortaleceu diante da derrota e ocupou a Prefeitura de
Kiev e a Praça da Independência. O governo reagiu com violência e
prisões arbitrárias, o que pareceu dar gás aos manifestantes. Depois de
meses de embate, em fevereiro, Yanukovich deixou o país, e um governo
interino pró-UE assumiu o poder.
O Ocidente reconheceu a troca, mas o governo russo viu nela um golpe de
Estado. Com base nisso, alegou que havia ameaça aos cidadãos de etnia
russa que vivem na Crimeia e foi, aos poucos, tomando o controle da
área.
Fonte: Folha de S. Paulo. Caderno Mundo. 09.03.2014
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