População Brasileira vive mais com menos qualidade
Os idosos de São
Paulo estão vivendo mais, mas em piores condições de saúde. Na última década, a
taxa de de incapacidade por doenças cresceu 78,5% entre os homens e 39,2% entre
as mulheres acima de 60 anos.

Entre 2000 e 2010,
essa população ganhou, em média, dois anos a mais de expectativa de vida, mas
perdeu até três de vida saudável.
Os dados vêm de um
estudo inédito obtido pela Folha feito a partir de um projeto da Faculdade de
Saúde Pública da USP que acompanha diferentes gerações de idosos desde 2000.
A expectativa de
vida de homens de 60 a 64 anos passou de 17,7 para 19,7 anos. No mesmo período,
o número de anos de incapacidade pulou de 4,4 para 7,2. Entre as mulheres da
mesma faixa etária, os anos de incapacidade passaram de 9,4 para 13,2.
Esse descompasso
entre a vida longa e a vida saudável também vem sendo observado em outros
países. No ano passado, um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard
comparou as condições de saúde entre 1990 e 2010 em 187 países. |
![]() |
O aposentado Juan Gimenez Torres, 76, durante sessão de exercícios do programa de atividade física e reabilitação no Hospital Dante Pazzanese |
A conclusão foi
que a expectativa de vida cresceu, em média, cinco anos, mas pelo menos um ano
foi de vida com incapacidade.
"Saúde
significa mais do que retardar a morte ou elevar a expectativa de vida ao
nascer. Precisamos entender melhor como ajudar as pessoas a viver os anos
extras em boas condições de saúde", afirma Joshua Salomon, professor de
Harvard e um dos autores do estudo.
PREVENÇÃO
A boa notícia é que, segundo o estudo da USP, vale a pena investir em prevenção mesmo na velhice, seja incentivando a prática de atividades físicas e dieta equilibrada seja mantendo sob controle as doenças já instaladas.
"Isso quebra
preconceitos. As pessoas pensam que prevenção só cabe aos jovens, mas ela deve
ser incentivada para que os idosos tenham mais qualidade de vida
independentemente das doenças que já tenham", diz o geriatra Alessandro Campolina,
autor do estudo da USP.
O médico também
fez projeções sobre o impacto das doenças que mais afetam os idosos. Se a
hipertensão e a diabetes fossem controladas, por exemplo, os homens ganhariam
até seis anos de expectativa de vida livre de incapacidade.
O aposentado Juan
Gimenez Torres, 76, aposta nisso. Controla a pressão alta com remédios, e nem a
prótese que tem no joelho é desculpa para fugir da academia.
Praticando atividade física três vezes por semana, perdeu oito quilos e atingiu
a marca que desejava: 80 kg.
"Muito idosos
acham que estão velhos para começar qualquer coisa. É um erro. Nunca é tarde.
Tem que parar de ficar só reclamando."
A prevenção e o
controle das doenças crônicas, que respondem por quase 70% da carga de
enfermidades dos idosos, são as chaves para um envelhecimento saudável.
O estudo da USP
revelou que existe um grupo de doenças cujo controle aumentaria a expectativa
de vida livre de incapacidade. São elas: problemas cardíacos, diabetes,
hipertensão, quedas e doença pulmonar crônica.
O trabalho alerta
para o aumento do sobrepeso e da obesidade, que estaria ligado a uma maior
prevalência das doenças cardíacas e cérebrovasculares.
O câncer também
vem aumentando na população idosa. Entre os homens, tumores de pulmão, próstata
e colorretal são os mais prevalentes. Entre as mulheres, são os de mama, pulmão
e colorretal.
As doenças
mentais, articulares e as quedas são outros fatores importantes de
incapacidade.
Para o médico
Alessandro Campolina, os dados deveriam nortear os programas de prevenção e a
alocação de recursos. "Não é só fornecer medicamentos. É preciso uma rede
de assistência voltada para as necessidades dos idosos."
DIFICULDADES
Para a médica Maria Lúcia Lebrão, professora titular de epidemiologia da USP, faltam políticas públicas eficientes no país.
"É muito
papel escrito, mas as coisas não caminham. Um terço dos idosos de São Paulo
enfrenta dificuldades imensas. Muitos vivem sozinhos, trancados em casa,
explorados pelas famílias, desnutridos e deprimidos. É triste."
Segundo ela,
estudos já verificaram que até 40% dos idosos não têm contato social. "Muitos não têm limitação física, mas faltam estímulos."