Bem perto do pólo Norte, uma montanha gelada guarda o tesouro genético do
planeta. Trata-se do projeto mais ousado de preservação da vida vegetal,
inaugurado nesta terça-feira no arquipélago norueguês de Svalbard.
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A nova Arca de Noé fica escondida no final de um túnel de 120 metros, escavado em rochas geladas a 70 metros de profundidade e será mantida a -18ºC |
"É o último
refúgio das lavouras do mundo", diz Cary Fowler, diretor da Global Crop
Diversity Trust, organização, criada pela FAO (órgão das Nações Unidas para
agricultura), que coordena o projeto juntamente com a Noruega.
As primeiras
amostras de sementes serão colocadas nesta terça-feira no Banco Internacional
de Sementes de Svalbard, durante a cerimônia de inauguração, pelo premiê
norueguês, Jens Stoltenberg, e pela ambientalista queniana e Prêmio Nobel da
Paz, Wangari Maathai. O projeto já recebeu cerca de 100 milhões de sementes
doadas por cem países.
O Brasil deve
enviar em breve a sua contribuição, por meio do do Cenargen (Centro Nacional de
Recursos Genéticos), da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
"A Noruega
está orgulhosa por ter um papel central ao proteger não apenas sementes mas os
alicerces da civilização humana", disse Stoltenberg.
A escolha de
abrigar o bunker ecológico nesse remoto arquipélago acima do círculo polar
Ártico não foi por acaso. Além de ter clima e geologia ideais, Svalbard é
distante o bastante para manter em segurança a herança genética vegetal.
A nova Arca de Noé
fica escondida no final de um túnel de 120 metros, escavado em rochas geladas a
70 metros de profundidade e será mantida a -18ºC. Essa caverna de alta
tecnologia, construída nos últimos 11 meses numa montanha de Longyearbyen --uma
das cidades do arquipélago--, é equipada com portas de aço blindadas, câmeras e
detectores de movimentos e será monitorada remotamente da Suécia.
As mudanças
climáticas foram inicialmente o que impulsionou o projeto, mas não foram o
único motivo. Nos últimos anos, mais de 40 países tiveram os seus bancos de
sementes destruídos: em guerras como no Iraque e no Afeganistão, ou em
inundações e outros desastres ecológicos, como o recente tufão nas Filipinas.