Um surto de efeito estufa há 250 milhões de anos foi uma das principais
causas do evento de extinção de espécies mais catastrófico da história
do planeta, sugere um novo estudo.
Analisando o peso atômico do oxigênio contido em fósseis da época,
cientistas calcularam que a temperatura média anual de águas equatoriais
chegou a um pico de 40°C, tornando a vida impraticável na maior parte
das áreas tropicais.
O trabalho, publicado na edição desta semana da revista "Science",
oferece pela primeira vez evidências de que o calor contribuiu
diretamente para extinção, e não era apenas um coadjuvante de outros
fatores, como a falta de oxigênio na água ou a deterioração da camada de
ozônio.
Dmitry Bogdanov/Creative Commons | ||
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Concepção artística de listrossauro, um dos poucos animais sobreviventes da Grande Extinção |
Todos esses problemas geológicos que criaram dificuldades para seres
vivos na época estão ligados a um período extremamente intenso de
atividade vulcânica na Sibéria. Numa escala de um a dez anos, a poeira
de vulcões faz a terra resfriar. Mas, no longo prazo, o gás carbônico
emitido via erupções faz o planeta se aquecer.
É o que foi verificado na transição do período Permiano para o
Triássico, estudado pelos pesquisadores, quando o planeta perdeu 96% das
espécies marinhas e 70% dos vertebrados terrestres.
Segundo os cientistas, o problema do efeito estufa acentuado não apenas
esteve envolvido na extinção desenfreada como também atrasou a
recuperação da biodiversidade e o repovoamento dos trópicos.
"Quando se olha para a extinção em si, ela está ligada a atividades
vulcânicas. Mas, depois do início da extinção, o aquecimento começou a
dominar a tendência", disse à Folha Paul Wignall, da Universidade
de Leeds (Reino Unido), um dos autores do trabalho. "O problema que
aconteceu depois é que o planeta perdeu uma das maneiras que possuia
para tirar o gás carbônico da atmosfera: as plantas."
Não há medidas diretas sobre áreas terrestres, mas os cientistas estimam
que o pico de temperatura pode ter chegado a 60°C em algumas regiões. O
estudo estima que, de 252 milhões a 247 milhões de anos antes do
presente, não havia praticamente nenhum vertebrado terrestre vivendo
numa faixa de latitude que vai do Uruguai aos Estados Unidos.
Os animais que sobreviveram, por sua vez, encolheram de tamanho para se
adaptar a temperaturas mais altas. Segundo o pesquisador, todas essas
são coisas que devem ocorrer com o aquecimento global atual, em grau
menor.
"Estamos mostrando o quanto um aquecimento global pode ser ruim", afirma
Wignall. "Não acho que veremos algo nesse nível em nosso futuro
próximo; certamente não nos próximos cem anos."
Segundo o cientista, as temperaturas do fim do Permiano subiram até os
níveis registrados em algumas poucas centenas de milhares de anos, o que
é bastante rápido em termos geológicos. "Hoje, porém, o que vemos
acontecer é equivalente a uma subida de temperatura instantânea", diz.